A biossegurança deixou de ser preocupação para tornar-se uma exigência mundial durante a pandemia do Covid-19. Independente do momento atual, estas medidas no campo da medicina veterinária já eram uma realidade desde a década de 70, quando o National Institute of Health, nos Estados Unidos, divulgou normas de segurança laboratorial que deveriam ser obrigatoriamente seguidas pelos laboratórios que estivessem recebendo verbas federais. Na medicina veterinária brasileira uma das poucas normas técnicas de biossegurança aplicáveis aos estabelecimentos veterinários é a Portaria Federal nº 453/1998, que normatiza as medidas de proteção radiológica.
Etimologicamente a palavra biossegurança significa vida + segurança, podendo ser entendida, em sentido amplo, como o conjunto das medidas necessárias para uma vida livre de perigos. Podemos então definir biossegurança como um conjunto de procedimentos, ações, técnicas, metodologias, equipamentos e dispositivos capazes de eliminar ou minimizar riscos inerentes às atividades de pesquisa, produção, ensino, desenvolvimento tecnológico e prestação de serviços, que podem comprometer a saúde do homem, dos animais ou do meio ambiente. As implantações de medidas de biossegurança na medicina veterinária visam realizar um diagnóstico dos possíveis riscos encontrados nos diferentes ambientes, apresentando formas de reconhecê-los e evitá-los.
Para implementar medidas de biossegurança em um determinado ambiente ou ação, a tomada de decisões deve fundamentar-se em três conceitos básicos:
• reconhecimento dos riscos;
• avaliação dos riscos;
• controle dos riscos.
Entre as principais ações de biossegurança que estamos acostumados é a utilização dos chamados Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) estabelecido como todo dispositivo de uso individual utilizado com o objetivo de proteger a saúde e a integridade física do trabalhador, como por exemplo, luvas, óculos, toucas, capacetes, aventais, sapatos fechados ou sapatilhas descartáveis, máscaras e protetores auriculares. É importante ter conhecimento acerca do manuseio dos EPIs, onde suas principais funções são a redução da exposição do profissional e proprietários aos agentes infecciosos, redução de riscos e danos ao corpo provocados por agentes físicos ou mecânicos, redução da exposição a produtos químicos tóxicos e redução da contaminação do ambiente.
Já o Equipamento de Proteção Coletiva (EPC) são equipamentos utilizados para prevenção de acidentes, sinalização e proteção dos profissionais, pacientes e de terceiros em áreas de atividades de risco.
Deve-se levar em conta a importância da sinalização adequada e de fácil acesso, sobre as atividades desenvolvidas que apresentem riscos, assim como a utilização de placas de advertências claras e sem ambiguidade.
Em muitas áreas da medicina veterinária alguns assuntos exibem sérias implicações relacionadas à biossegurança, como por exemplo: a destinação de resíduos infectantes e de material perfurocortante (agulhas); a conservação correta de produtos biológicos (vacinas); e vacinação pré-exposicional contra raiva e tétano das pessoas que mantêm contato direto com os animais.
É importante salientar que a primeira medida na prevenção de riscos a ser realizada é sua correta identificação. Para tanto, devemos conhecer a classificação no qual eles se enquadram: riscos biológicos, físicos, químicos, ergonômicos e mecânicos.
Os riscos biológicos surgem com frequência e os de maior destaque são o contato com secreções, fluidos, ectoparasitas e aerossóis. A utilização de barreiras que protejam os envolvidos, como o uso de EPIs (máscara e luvas), são medidas que podem diminuir os riscos de exposição.
Riscos químicos são representados, por exemplo, pelo contato com substâncias utilizadas para limpeza e desinfecção ou manipulação de medicamentos. Tais riscos podem ser também diminuídos por meio do uso adequado de EPIs.
Além dos riscos biológicos e químicos, os físicos e ergonômicos estão entre os principais associados ao manejo direto com equinos.
Uma modalidade que podemos citar é a laserterapia, muito utilizada por fisioterapeutas veterinários e que requer cuidados e atenção relacionados à biossegurança por seus riscos físicos. Os equipamentos de Laser, quando utilizados incorretamente, são capazes de causar, por exemplo, lesões oculares, pela característica de sua luz ser direcional e monocromática e frequentemente invisível, apresentando maior perigo que uma luz comum, já que é capaz de concentrar uma quantidade significante de potência e energia luminosa em uma pequena área. O uso de proteção ocular durante a manipulação do aparelho é sempre requerido durante as sessões, tanto pelo médico veterinário quanto por pessoas próximas durante a realização da terapia.
Em relação aos riscos ergonômicos devemos estar atentos à postura repetitiva, instalações inadequadas e levantamento de peso excessivo durante a manipulação com equinos. Desta forma, posicionamento correto ao redor do paciente, alongamento entre procedimentos e manutenção do condicionamento físico pessoal estão entre as ações necessárias.
Os acidentes mecânicos, representados por mordeduras, coices, quedas e ferimentos podem ser minimizados por contenção adequada.
Quando identificados os riscos, os mesmos e suas correções devem estar descritos nos chamados Procedimentos Operacionais Padronizados que nada mais é do que uma descrição detalhada de todas as operações para a realização das tarefas de forma segura, ou seja, um roteiro padronizado para desempenhar uma atividade.
Devemos sempre ter em mente que a responsabilidade do Médico Veterinário é a mesma de qualquer outro profissional da saúde e possui o compromisso com todos os aspectos que envolvem a segurança e o bem-estar social da população. Sendo assim é de suma importância ter conhecimento sobre biossegurança, para a máxima proteção do profissional, paciente e todos envolvidos na indústria equestre.